quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A incoerência do vestibular

Olá, esse é nosso primeiro texto do Blog da 42. Poderia iniciar falando sobre escrita.

Mas na verdade acredito que seja melhor falar sobre leitores.

Temos uma deficiência na formação de novos leitores. Claro que não essa não é a única razão para que haja tiragens menores, o que responderia a muitos escritores a tal pergunta “por que não consigo vender”. Cada vez mais as editoras procuram a impressão por demanda, ou seja: imprimem o que vão vender, reduzindo assim o custo com estoque, armazenamento e inclusive amenizando prejuízos. Mas me deparei com algo que me chamou a atenção. Tenho um filho no segundo colegial, garoto que herdou o amor pela leitura e que possuiu uma pequena coleção com mais de 150 livros, todos já lidos; o que chegaria próximo de 18 livros lidos por ano, número quase 5 vezes maior que a média nacional.

E não é só isso. Meu filho gosta de Érico Veríssimo, de Monteiro Lobato e do Barão do Itararé; tudo isso colaborou para meu espanto quando ele anunciou que não leria o livro pedido para a prova de literatura. Me assustei, já que é ótimo aluno e não costuma deixar seus deveres incompletos. Perguntei o porquê daquilo. Ele me disse somente: Almeida Garret. Eu não entendi por que a negação, por que não ler Almeida Garret? “Mãe, é impossível ler isso e me sentir envolvido, é outro português, outro ritmo, a leitura não flui”. Na hora tudo fez sentido. Claro, como ler algo sem ritmo, sem identificação? E como fazer com que jovens acostumados à televisão (para não citar computadores, vídeo games, celulares e iPads), à tecnologia e a uma sociedade em constante mutação, se sintam atraídos por textos tão distantes da realidade deles? Será que os grandes clássicos são os únicos representantes legítimos do nosso idioma e de nossa arte literária?
Para que haja leitores é necessário que se formem leitores. O raciocínio é simples. A conclusão que tiramos é que estamos formando menos pessoas interessadas por livros.

Onde estamos errando? Provavelmente é um efeito acumulativo, já que a educação brasileira aponta, não somente uma instrumentalização, como uma deterioração há mais de 30 anos. Ou seja, os pais de hoje já foram leitores desmotivados a partir da sala de aula. E os jovens que serão os futuros leitores também não são encorajados a ler. Como um garoto pode se identificar com a linguagem de Almeida Garret? Ou mesmo com os costumes relatados por José de Alencar? Pedimos para que adolescentes se espelhem em um mundo desconhecido, antigo, trancado em prateleiras e armários (o que não reduz sua excelência, mas não os tornam atrativos para quem está “aprendendo” a leitura). E com isso, prejudicamos, inclusive, a produção literária atual do país, criando uma resistência à leitura quando forçamos um engessamento por modelos literários com mais de 100 anos.

Vejo a necessidade de repensarmos o ensino da literatura, e o descobrimento de “novos clássicos”, de livros contemporâneos que tenham qualidades para inspirar e motivar, não somente o entendimento da literatura, mas o amor à leitura.

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